quinta-feira, 30 de junho de 2016

Réplica




Ela se apaixonou pelo médico.
Viveu iatrogenizada, o resto da vida.

Ela se apaixonou pelo cozinheiro.
Comeu em excesso, o resto da vida.


Ela se apaixonou pelo poeta.
Se tornou diversa, em cada verso.



Porto Alegre, 30 de junho de 2016.

Edu Cezimbra, dentista homeopata, gourmet e poeta

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Poema inédito de Fernando Pessoa


Cada palavra dita é a voz de um morto.
Aniquilou-se quem se não velou
Quem na voz, não em si, viveu absorto.
Se ser Homem é pouco, e grande só
Em dar voz ao valor das nossas penas
E ao que de sonho e nosso fica em nós
Do universo que por nós roçou
Se é maior ser um Deus, que diz apenas
Com a vida o que o Homem com a voz:
Maior ainda é ser como o Destino
Que tem o silêncio por seu hino
E cuja face nunca se mostrou.

Fernando Pessoa 

19.1X.1918

Revista Bula

terça-feira, 28 de junho de 2016

Loja de máquinas



Uma solitária máquina de escrever à espera de um escritor em meio a muitas máquinas de costura ...
Classificados: troco uma máquina de escrever por uma máquina de costura, tratar com Franz  Kafka

Será que a máquina de escrever se sente 'um estranho no ninho' entre tantas máquinas de costura?

Ou inspira um apólogo machadiano? -Eu escrevo livros, poesias e peças de teatro enquanto você faz apenas remendar roupas velhas... 

- Sei, também escreve ocorrências policiais em delegacias sucateadas ou atestados de óbito em cartórios poeirentos, enquanto eu costuro lindos vestidos para festas de 15 anos.

Tenho uma máquina de costura dessas antigas na sala, assim como um antigo rádio de válvulas , ficava olhando a luzinha verde das válvulas acender (minha primeira TV).

A propósito, máquinas de escrever antigas não se fabricam mais?

Se não, felizmente ainda se encontram em briques ou lojas de decoração, assim como livros... encadernados com capa-dura vermelha e letras douradas.

Classificados: procuro máquina de escrever antiga, troco por um teclado de computador semi-novo,  tratar com Edu Cezimbra.


Porto Alegre, 28 de junho de 2016.

Edu Cezimbra

Imagem:Amalia Avia
Tienda de máquinas, 1988
Óleo sobre madeira

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Lenine e a Ponte



Porto Alegre, 22 de dezembro de 2011.

Arte: Edu Cezimbra




O mito de Tântalo atualizado por um marxista


Na modernidade, o dinheiro se tornou a "mediação universal" (Marx). Assim como Tântalo do mito grego, nós nos encontramos diante das riquezas que, no momento em que queremos pegá-las, retiram-se, já que não podemos pagar. Essa renúncia forçada sempre foi o apanágio do pobre. Mas agora - o que constitui uma situação inédita - toda a sociedade, ou quase, está passível de passar por isso. A última palavra do mercado é, então, deixar morrer de fome no meio das comidas amontoadas por toda parte e que apodrecem, sem que ninguém possa botar a mão.

Anselm Jappe
Porto Alegre, 7 de maio de 2012.

Arte: Edu Cezimbra

Jayme Caetano Braun e o diploma


Sem Diploma
Jayme Caetano Braun


Bendito aquele que estuda
porque estudar é importante,
embora o ignorante
tem sempre um santo que ajuda,
às vezes a sorte muda,
quando existe um santo forte,
cada qual procura um norte,
por isso não encabulo
- que a tava que bota culo
é a mesma que bota sorte!

Meu tetravô foi fronteiro,
meu bisavô domador,
o meu avô - alambrador
e o meu pai foi carreteiro;
a mim não sobrou dinheiro
pra cursar a faculdade,
mas tive a felicidade
graças ao nosso senhor
e me tornei payador
pra guardar a identidade!

O estudo é muito bonito
e até muito necessário,
mas este cantor primário,
cruzando o pago infinito,
continua - a trotezito,
mesmo sem ser diplomado
e me sinto conformado,
o que é meu - ninguém me toma,
pois duvido que um diploma
torne um burro advogado!

Como é lindo colar grau
num salão de faculdade,
embora essa qualidade
não transforme o bom em mau,
o Jayme Caetano Braun,
dessa linha não se afasta,
a inspiração não se gasta
nem me torna mais cruel,
eu conquistei um anel
o de gaúcho - e me basta!




Porto Alegre, 26 de junho de 2012. 

Arte: Edu Cezimbra

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Estado-Maior das 4 Estações



O Inverno é General

A Primavera é Brigadeira

 O Verão é Marechal 

 O Outono é Almirante


O General Inverno, o Marechal Verão, a Brigadeira Primavera e o Almirante Outono formam o Estado-Maior de Gaia na guerra contra a arrogância e a estupidez humanas.


Porto Alegre, 22 de junho de 2016.

Edu Cezimbra

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Bicharada


 Para os netinhos Íris, Guadua e Rosinha (a caminho)

Por todo lado
tem bicho e tem bichano.

O tarrã atarracado
 deixa a rã muito ranzinza.

O sapo não é saponáceo
nem o jacaré é jaca .

O galo é galante
 com a galinha engalanada.

Para o gato  gatuno
todo cão é um canzarrão.

O peru emperucado
torce que o boi seja a "bóia".

 A vaca vacinada
vê a ovelha e a velha.

O burro emburrado
quer o cavalo cavalgando.

O sabiá sabia
que o pica-pau pau pau.

O bem-te-vi bem te viu
 beija-flor beijando a flor.

A cambacica em cambada
atrá da mosca na moscada.
 
 A barata é do barato
e a pulga do pulgatório.

 A tartaruga tártara
vê que o tatu é tatuado.

 A cobra dá cobrada
 e tanto bicho, bicharada! 



Porto Alegre, 23 de junho de 2016.

Foto da animação Animal Farm

Edu Cezimbra

terça-feira, 21 de junho de 2016

Eu serei sempre seu amigo!!!


Dança com lobos! Eu sou Vento no Cabelo!! Eu sou seu amigo!! Dança com Lobos!!! Dança com Lobos!! Eu serei sempre seu amigo!!! Dança com Lobos!!! Dança com lobos!!

 "Ele costumava dizer que nós existimos enquanto alguém lembra de nós". Carlos Ruiz Zafón, em 'A Sombra do Vento'


Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Soneto da Separação, de Vinicius de Moraes,é um poema que sintetiza mais que a separação a dor da perda de um amor, de um ente querido, de um amigo, entre outras... 

A saudade dos amigos bate forte quando se fica muito tempo afastado deles ou mesmo quando eles partem para aquela viagem sem volta... 

Há momentos que a lembrança destes amigos é forte. 
O que será que nos faz lembrar tanto deles?

Um dito espirituoso : "nem, meio pouco", repetia um amigo de infância lá do Alegrete.

"Um conhaque", imitava o velho fregues da bodega, com voz em falsete e um sotaque de Boqueirão do Leão, outro amigo de faculdade, convidando para um trago.

Tenho amigos (poucos) espalhados por todos os lugares que andei e sempre que reencontro com um vem a lembrança de outros: "e o Fulano, onde está?", "Sicrano está gordo", "Beltrano adoeceu", e assim vai...

Às vezes, lembramos de um amigo por necessidade, quando precisamos dele, e lá está ele pronto 'pro que der e vier'.

Convenhamos, quem escreve tem este recurso. Lembrar dos amigos como matéria para seus escritos.

Há uma cena do filme "Dança Com Lobos" em que o Sioux 'Vento no Cabelo' se despede do cara-pálida 'Dança com Lobos' e que traduz o meu sentimento em relação aos poucos amigos que 'dançam com lobos' que tenho:

Dança com Lobos! Eu sou Vento no Cabelo!! Eu sou seu amigo!! Dança com Lobos!!! Dança com Lobos!! Eu serei sempre seu amigo!!! Dança com Lobos!!! Dança com lobos!!!

Porto Alegre, 21 de junho de 2016.

Edu Cezimbra






segunda-feira, 20 de junho de 2016

Yoko e a cambacica


Yoko, essa gatinha aparentemente "inocente", apanhou em pleno voo uma azarada cambacica, um pequeno passarinho, que entrou desavisadamente na cozinha da casa. 

Sorte da cambacica que ouvi o ruído de algo quebrando e cheguei a tempo de retirar da boca do "perigoso felino" o assustado passarinho que voou amarfanhado  e molhado, mas ileso, para fora!

Porto Alegre, 7 de setembro de 2014

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra 

Jung e Transformações


"A história sempre de novo nos ensina que, ao contrário da expectativa racional, fatores assim chamados irracionais exercem o papel principal, e mesmo decisivo, em todos os processos de transformação da alma."
 
Jung (não diretamente) foi-me apresentado pelo curso de Homeopatia que comecei em 1992.  

Este curso propunha uma "Homeopatia Holista" e apresentava os medicamentos homeopáticos associados à mitologia, religiões, contos de fada e até histórias em quadrinhos, uma "viagem" para a maioria dos meus colegas.

Para mim, que vinha de um curso da área da saúde extremamente tecnicista (Odontologia), foi um salto de consciência imensurável e um resgate de tudo que a literatura, a arte, o cinema e a poesia tinham me apresentado. 

Aquela sensação de frustração que me abatia depois de um dia inteiro entre as quatro paredes de um consultório dentário foi substituída por uma satisfação de poder novamente descerrar as cortinas que a deformação tecnicista tinha fechado sobre minha visão de mundo.

Uma abordagem holística me permitiu ter uma maior amplitude na visão de mundo e graças a presença no curso de Homeopatia de psicólogos, médicos, farmacêuticos e veterinários foi um pulo para chegar ao velho bruxo Jung.

Este prefácio de "Símbolo das Tranformações" na minha opinião deveria ser emoldurado em todos os consultórios de médicos, psicólogos e de terapeutas como um "lembrete".

Senão em consultórios em associação de defesa dos consumidores.

Porto Alegre, 18 de junho de 2016.

Edu Cezimbra

domingo, 19 de junho de 2016

Se a Terra fosse Pandora



Se a Terra fosse Pandora

seríamos os avatares aliados de Pandora?

Seríamos gigantes Navis enfrentando

os apequenados terráqueos saqueadores?
"Lá por 2013"

Edu Cezimbra

sábado, 18 de junho de 2016

Napalm




Línguas de fogo

Riscam o céu

Napalm incinerante

Inquisidor maligno

Queimando gente

Torturando hereges

Do sagrado capital

"Foi lá por 85"

Edu Cezimbra

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Para que serve a Utopia?



Perguntaram ao Galeano

para que serve a Utopia.

Poeticamente respondeu:

Utopia é o horizonte

que nos convida a caminhar.


Acrescento eu,

Utopia serve para iniciar o fogo

 que iluminará o meu caminho,

aquecerá o meu corpo

e incendiará a minha paixão.


Porto Alegre, 17 de junho de 2016.

Edu Cezimbra

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Vomitaço contra o golpe





Se deixarem este governo interino manda o Estado inteiro para a privada.


Não confunda governo interino com desgoverno do intestino, embora ambos mandem tudo para a privada


 A civilização tem muito de barbárie...que o digam nossos indígenas, quilombolas, pobres e todos os excluídos.


 Exija seu cérebro de volta!



 A Globo e sua ridícula tentativa de esconder as manifestações contra Temer!


 A seguir sendo denunciado assim, logo Temer vai estar concorrendo com o Aécio nesta disputa pelo primeiro lugar na corrupção.


Interino Temer me lembra o "Aprendiz de Feiticeiro" que faz a maior bagunça na casa quando a mestra Dilma sai. 


Cassado ou caçado feito PC Farias?


terça-feira, 14 de junho de 2016

Lamentos




Machuco o coração

Nas ásperas agonias  do viver só

Transmito dor

Aos olhos

Choro

"Foi lá por 85"

Design: 14 de junho de 2016

Foto de Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra

Leituras matinais de Kafka e Cyro Martins



Kafka afirma que "sua segurança é possível por meio da sua burrice" referindo-se a dois funcionários do tribunal em "O Processo", enquanto Cyro Martins no romance "Estrada nova" descreve Lobo, o sub-ṕrefeito de um município da campanha gaúcha que há anos se mantém no cargo por estar sempre ao lado da situação. 

Fique claro, para bem de Kafka e Cyro, que não estão se referindo à atores da atual quadra política brasileira, embora as semelhanças não sejam meras coincidências....



Porto Alegre, 14 de junho de 2016.

Edu Cezimbra

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Juntos


"Foi lá por 85"

Arte: Porto Alegre, 09 de junho de 2016

Foto: detalhe de "Banho" de Manet

Edu Cezimbra

terça-feira, 7 de junho de 2016

Mia Couto e os Muros


"Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome, e como militares sem farda deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e de discutir razões. As questões de ética são esquecidas porque está provada a barbaridade dos outros. E porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética e nem de legalidade. É sintomático que a única construção humana que pode ser vista do espaço seja uma muralha. A chamada Grande Muralha foi erguida para proteger a China das guerras e das invasões. A Muralha não evitou conflitos nem parou os invasores. Possivelmente, morreram mais chineses construindo a Muralha do que vítimas das invasões que realmente aconteceram. Diz-se que alguns dos trabalhadores que morreram foram emparedados na sua própria construção. Esses corpos convertidos em muro e pedra são uma metáfora de quanto o medo nos pode aprisionar."

Mia Couto

 Por isso sempre  gostei de pontes (e não por ser dentista), ainda mais sobre fronteiras geopolíticas, disciplinares, culturais; enfim, onde se erguem muros separatistas que se façam pontes entre todas as fronteiras!  

Edu Cezimbra

Poema Oceano

Poema Oceano

Deixa a mente serena

como um oceano sem vento
não te conduzas pela esperança
nem te arrastes pelo medo

Deixa a mente pura
como um oceano sem bruma
não te alegres com o ganho
nem te entristeças com a perda

Deixa a mente silenciosa
como um oceano sem trovoadas
não te encantes com os elogios
nem te aborreças com os insultos

Deixa a mente vazia
como um oceano sem barcos
não te apegues ao eu nem ao outro
nem te julgues separado da natureza original do vazio

Deixa a mente indivisível
como um oceano sem ondas
não te iludas com o desejo
nem te enganes com a aversão

Deixa a mente ilimitada
como um oceano sem praias
não te confines no interior
nem te disperses no exterior

Deixa a mente insondável
como um oceano sem oceano
não te confundas com o nome da forma
nem com a forma do nome

Conserva sempre o barco vazio
enquanto cruzares o oceano
mantendo sempre a paz da mente
mesmo durante a maior das tempestades
mantém a mente serena
mesmo quando soprar
o mais forte vento
mantém a mente pura
mesmo quando se acumular no horizonte
a mais densa bruma
mantém a mente silenciosa
mesmo quando ribombar
o mais temível trovão na noite escura
mantém a mente indivisível e ilimitada
enquanto as vagas se renovam no mar
e estouram na beira da praia
Pema Lhundrup Dorje

Porto Alegre, 12 de janeiro de 2013

Arte: Edu Cezimbra

sábado, 4 de junho de 2016

Mulher



Porto Alegre, 10 de março de 2014

Imagem: "Nature" by Igor Morski, ilustrador polonês.

Edu Cezimbra

A Paz Almejada


E se parássemos de guerrear conosco mesmo
haveria a paz tão almejada?
A paz tão decantada na bacia das almas…
A paz apascentada feito ovelhas nos campos verdes…
A paz de uma criança a dormir…alimentada.
 
Porto Alegre, 23 de novembro de 2015.
 
Poema que finaliza a crônica "Por onde andará a Paz?"
 
Edu Cezimbra 
 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Fogão a lenha

Fogão a lenha com muito fogo para aquecer a panela de ferro, a batata-doce e o pinhão na chapa, e assim nos defendemos do cerco do "General Inverno"!

Dias sem sol, a chuva é onipresente, a tarde anoitece cedo, o frio é úmido: bem vindo a Porto Alegre, a capital do extremo sul do Brasil, se aprochegue na volta do fogão a lenha, tem mate e batata-doce assando no forno!

Noite fria e chuvosa, de acender lareira e fogão a lenha ao mesmo tempo!

O jeito é ir carregando lenha e botando fogo em todo canto da casa...no fogão e na lareira, bem entendido!

Em noites frias as línguas de fogo crepitam calor e falam de aconchego e sossego, enquanto a chaleira chia e a batata-doce assa bem devagarzinho...

Ás vezes pegar uma batata quente nas mãos não é de todo ruim... Acabei de pegar uma batata-doce direto do forno do fogão a lenha, manjar dos deuses em uma noite fria!

Impressionante como um fogão a lenha aquece: rachar lenha, subir quatro lances de escadaria com uma cesta cheia de lenha! 

Inverno de 2014

Edu Cezimbra

Lembranças do meu avò



Andar por feiras de antiguidade, como esta em Montevidéu, recorda entes queridos, como meu avô João Sejanes, que morou, no Alegrete, com minha família, por uns tempos. 

Lembro dele catando milho em uma máquina de escrever parecida com esta, escrevendo seus poemas gauchescos e com um velho dicionário ao lado, onde buscava palavras bonitas para enfeitar suas poesias.

Com um pequeno detalhe, meu avô se alfabetizou por esforço próprio e lia diariamente o velho e comprido Correio do Povo. — em Feria Tristán Narvaja.
 
Edu Cezimbra 

Foto: Francisco Cezimbra

Sonho de Liberdade



Poema dedicado a todos os detentos brasileiros e suas famílias que já cumpriram suas penas e ainda estão presos aguardando os alvarás de soltura serem expedidos pelos juízes e liberados pelos cartórios.

Estes cativos do Estado são negros, pobres e favelados, evidentemente.

Edu Cezimbra

Porto Alegre, 11 de março de 2014

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Amor


"Foi lá por 85"

Arte: 2014

Edu Cezimbra

As Pombas




As pombas

Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
        
             
             E à tarde, quando a rígida nortada
             Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
             Ruflando as asas, sacudindo as penas,
             Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

Raimundo da Mota de Azevedo Correia nasceu em Barra da Magunça (MA), em 1859 e faleceu em Paris, França, no ano de 1911.

Seu primeiro livro de poesia, "Primeiros Sonhos", foi publicado em 1879. Nos anos seguintes, foi redator da "Revista Ciência e Letras" e colaborador dos jornais "A Comédia", "Entr'ato" e "O Boêmio". Formou-se em Direito, em São Paulo, em 1882; no mesmo ano mudou-se para o Rio, onde entrou para a magistratura. Em 1883, sairia seu livro de poemas "Sinfonias"; seguiriam-se "Versos e Versões", 1883/1886 (1887), "Aleluias", 1888/1890 (1891) e "Poesias" (1898). Foi membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1897, mesmo ano em que secretariou a legação brasileira em Lisboa. O poeta forma, com Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, a tríade fundamental do Parnasianismo brasileiro. Foi um sonetista admirável e, segundo Manuel Bandeira, autor de “alguns dos versos mais misteriosamente belos da nossa língua."


O soneto ora apresentado foi publicado no livro "Sinfonias", Livraria Editora de Faro & Lino - Rio de Janeiro, 1883, e extraído de "Poesias completas", organização, prefácio e notas de Múcio Leão,Ed. Nacional - São Paulo, 1948, p.38. (Itaú Cultural - Panorama Poesia e Crônica).

Do site Releituras


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Parecenças



Dramático

Assim parece

O trágico



Patético

Feito amante

Platônico



Dúbio

Como azul

Danúbio
"Foi Lá por 86"

Arte: 02 de abril de 2014

Edu Cezimbra

Concreto "Armado"


Concreto "Armado"

Derrubar nossas árvores

Por concreto e asfalto

Em seu lugar


Fazer montes de concreto

Desabar em nossas cabeças

Matar o natural


Espalhar o concreto

Concretar paisagens 

Com concreto armado

"Foi lá por 86"

Arte: 07 de maio 2014

Edu Cezimbra