sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Raio de Sol



    Basta um único
    Raio de sol
    Para fugir a noite
    Quem o contempla 
    Do dia terá
    O sol inteiro

"Foi lá por 85"

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra 

Perdas e Ganhos



  • Diário virou blog
  • Telegrama virou twitter
  • Carta virou e-mail
  • Livro virou e-book
  • Telefone virou iphone
  • Disco virou ipod
  • Vídeo virou youtube
  • Enciclopédia virou wikipédia
  • Pesquisa virou google
  • Grupo virou e-group
  • Amizade virou facebook
A lista é enorme, cito aqui apenas programas e aplicativos mais utilizados por todos..

Não dá para esquecer a boa e velha máquina de escrever que virou um teclado cheio de teclas misteriosas...

É só uma constatação, não é reclamação, não.

Tudo muda para seguir igual, já disse um sábio.

Saudosismo é para fracos, românticos, velhos; esqueci alguém?

E, não se preocupe, caro leitor, não vou discorrer sobre cada item da lista acima...

Agora, quem teve um diário e escreveu  suas confidências íntimas sabe bem do prazer que é sentir a caneta deslizando na folha em branco feito um esqui na neve. 

Quem já recebeu uma carta não esquecerá jamais da excitação que era abrir o envelope selado depois de ler o remetente, reconhecendo a letra da pessoa amada ou do amigo. 

Claro, era mais demorada a troca de correspondências, e, talvez por isso os namorados namorassem por mais tempo...

Os livros, então...Para mim, um caso à parte: não há comparação entre escolher um, há quem pegue, apalpe, cheire o livro como preliminar, para depois abrí-lo, folhear suas páginas, lendo sem a irradiação da tela do computador e como se fosse os créditos que poucos leem nos filmes.

Até parece que o e-book é radioativo, credo...

Evidente que também leio e-books, não é disso que se trata, mas sim do sentimento que não é bem a leitura de um livro, entende?

Para concluir (ufa) quero dizer algo sobre as redes sociais e seu milhões, bilhões de usuários.

Umberto Eco disse que as redes sociais deram voz a uma legião de idiotas. Concordo no que tange aos idiotas...

Talvez por ser um estudioso da comunicação não estendeu a citação com um 'no entanto'...

No entanto, as redes sociais também deram voz e vez a escritores, músicos, cineastas, entre outros, que permaneceriam inéditos ou desconhecidos não fosse a internet com seus Facebook e Youtube, etecéteras e tais.

No balanço de 'perdas e ganhos' dessas 'e-novações' considero que as informações geradas aumentaram geometricamente, enquanto a sabedoria que delas advém aumentaram aritmeticamente.

'É ou não é'?...


Porto Alegre, 30 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra






quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Toc toc



A força que tem um toque...

Vale mais que conselho.

E tem diferença?

Conselho tu dá ninguém segue.

Toque tu dá ninguém rejeita.

Quem não ouve  o toc...toc...do coração?

Não tem que resista a um cafuné...


E o pitaco? Às vezes funciona...

Pitaco é um chute no saco quando acerta.

Até parece patada na testa...

Faz jeito de um bom e velho pito.

Tem vez que é preciso sacudir a roseira.

Assim feito pimenta no próprio olho.

Não é pitada de sal no coalho...


            Então, não tem truque?


Não, tem é traquejo pra juntar o tico e o teco!


Porto Alegre, 29 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

Despertar


Ao abrir os olhos

Já despertara antes

Por um sonho

Comigo mesmo.

 

Acordo preguiçoso

Passo pela alfândega 

Do controle do pensamento

Onde apresento meu documento

Nele está escrito:

                              Penso, logo existo.

                     

Sei que é mera formalidade

Para entrar no estado de vigília

Onde depois de uns mates

Esqueço os sonhos da noite

E reencontro a poesia:

                                      Morada dos sonhos despertos. 


Porto Alegre, 29 de setembro de 2016.

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra
 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Iessiênin e Maiakóvski: poetas na vida e na morte


          A palavra 
                          é capitã
                                           da força humana.
          Para a frente, andemos
                                               e que o tempo                                                                                                                                                   estoure em bombas.
          Que o vento que sopra
                                                 para os dias passados
           só leve
                          mechas de cabelos misturados.

           Para a alegria  
                                  o nosso planeta 

                                                  ainda está mal preparado.
           É preciso 
                          extorquir
                                         a alegria
                                                       aos dias futuros.
            Nesta vida 
                               morrer não é difícil
            Construir a vida
                            é bem mais difícil. 

Maiakóvski escreveu um poema, do qual transcrevi os últimos e antológicos versos, em honra do poeta Sierguéi Iessiênin, que muito admirava, e que se suicidara, em 1925, em Leningrado, atual São Petersburgo.


Em nota de rodapé, o tradutor Daniel Fresnot conta que "Sierguéi Iessiênin escreveu com seu próprio sangue um poema cujos últimos versos foram traduzidos por":

                               "Morrer não é novidade nesta vida.
                       Mas viver, com certeza, não é mais novo."


Porto Alegre, 28 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Homem sem Qualidades


"O Homem sem Qualidades também foi chamado de uma espécie de 'romance de formação', apesar de a personagem do título, Ulrich, ser um matemático de 32 anos. No entanto, Ulrich - cujo sobrenome nunca é mencionado "por consideração a seu pai" - tem uma consciência a tal ponto aguçada da confusão do mundo moderno que decide afastar-se da vida prática por um ano. Percebe-se, então, na condição de um homem sem qualidades, como o define seu amigo de infância, Walter: por um lado suas particularidades não lhe pertencem realmente, são rótulos impostos de fora; por outro faz parte da grande massa anônima das metrópoles."

'Aplauso', uma revista cultural de Porto Alegre, mostrou-se preocupada com os indicadores culturais da população brasileira apresentados por uma pesquisa do governo federal, tanto que fez uma reportagem com o sugestivo título 'O Tamanho da Tragédia', lá por 2007.

Foi na releitura dessa revista, hoje de manhã, apanhando aquele solzinho e a brisa fresca da primavera, que me veio a associação com o romance 'O Homem sem Qualidades', do escritor austríaco Robert Musil, citado acima, no posfácio de seu outro romance: 'O Jovem Törless", traduzido por Lya Luft.

Musil, tem  o mérito de realizar , no início do século XX (há mais de cem anos atrás), a visão profética do homem massificado pela 'cultura de massa' (a repetição é intencional),

Imaginei 'Herr' Musil ressuscitando no Brasil atual. 

Feliz ou infelizmente, não possuo o dom mediúnico da psicografia, portanto suponho que ao ler a pesquisa sobre o 'consumo' de cultura dos brasileiros acrescentaria um novo termo ou prefixo ao título de sua obra-prima, algo assim: ' O Homem sem nenhuma Qualidade'; ' O Homem Desqualificado', O Homem sem quaisquer Qualidades', por aí...

Outra coisa, 'Herr' Musil: o oposto do 'Homem sem Qualidades' seria obviamente  'O Homem com Qualidades'?

Alguém do 'naipe' de Proust, Kafka, Joyce, o próprio Musil para ficarmos na sua 'área de segurança'?

O parêntese  (imenso) a uma das indicações de um dos antropólogos que interpretou o resultado da pesquisa é que a 'cultura de massa' por meio da TV e do rádio, sem esquecer a internet, criou um mundo de 'midiotas' mostrado alegoricamente no filme 'Muito Além do Jardim: O Videota', estrelado pelo impagável Peter Sellers.

Sempre que os especialistas se deparam com uma 'sinuca de bico' em suas respectivas áreas aparece a 'palavra-mágica': Abre-te Sésamo, Educação!

Ao que lhes recordo a constação do sociólogo Florestan Fernandes: 


"A televisão tornou-se um estado dentro do estado, uma escola acima das escolas e uma forma sublimar e assustadora de manipulação de mentes"

Então, antes de mais nada, para melhorar os indicadores culturais brasileiros através da 'panacéia' da  educação essa é minha proposta objetiva: 

#DesligaRedeGlobo e, obviamente, a 'concorrência' evangélica e ruralista. 

Curto e grosso.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Repouso do Guerreiro



Estou só,só. Sozinho no mundo.
- Mas eu o amo, Renaud. Você não está só.
- Uma coisa nada tem a ver com a outra, evidentemente. Estou só.
- Ah, se ao menos você pudesse gostar um pouco de você, não estaria tão só, garanto.


Christiane Rochefort escreve este 'diálogo' no romance 'O Repouso do Guerreiro', em que narra a história de Geneviéve, uma jovem estudante de Direito, em Paris, e de Renaud, um alcóolatra inveterado.

Jean Renaud Sarti é um suicida frustrado por Geneviève Le Theil.

A semelhança do nome com o do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre diz muito do personagem: Sarti é uma caricatura intencionalmente grotesta do filósofo da falta de sentido da vida.
  
A autora dita o tom confessional do romance através de Geneviève, que não é nenhuma Simone de Beauvoir..

Ao contrário do que quer uma leitura superficial  a história não tem como tema principal a submissão e o alcoolismo.

É a falta de sentido da vida o que salta aos olhos do leitor mais atento.

A submissão de Geneviève é uma metáfora poderosa da condição da alma humana em geral, submetida aos sentidos e ao impulso sexual irrefreável.

A opressão de Sarti pode ser vista analogamente com a negação dos sentimentos de uma maneira extremadamente niilista.

Fatalmente, como nos conta Geneviève, a angústia existencial de ambos faz com que se tornem dependentes emocionalmente um do outro.

No caso de Geneviève, em nome do amor; no caso de Sarti, contra o amor, mais, como lembrado por ela: de amor-próprio.

Por isso a trama gira (com requinte intelectual) em torno dessa destruição consentida por ambos, cada qual a seu modo, mas contra os seus mundos.

Renaud justica seu comportamento sórdido e o seu alcoolismo com a bomba-atômica.

Geneviève alega que o amor compensa toda a humilhação tendo como vício o sexo desenfreado que Renaud lhe proporciona.

Ao fim e ao cabo, ambos mutuamente dependentes, o que me faz perguntar: e não tendo o sexo e o alcóol, quais seriam as suas drogas para se suportarem?


Porto Alegre, 26 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

Labirinto


O corredor-sombrio-longo-frio

Não é o que chamaria propriamente
                                  ['corredor da morte'.

Não leva para uma sala de execuções asséptica,

Daquelas que atualmente executam os condenados
                                                                            [à morte.

Parece mais ao mais intricados dos antigos labirintos.

Sem Minotauro mas também sem Ariadne.

Não é um herói que nele caminha só.

Antes um anti-herói desses muitos que vagam por aí...

Vai se defrontar com o mais perigoso e temido dos monstros:
                                                                              [com ele mesmo.


Porto Alegre, 26 de setembro de 2016.

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra

domingo, 25 de setembro de 2016

O amor nos lábios


Para DA (ela sabe que é)

Porto Alegre, 25 de setembro de 2016.

Foto: Francisco Cezimbra

Edu Cezimbra

sábado, 24 de setembro de 2016

Soneto para Netos e Bisnetos



Dedicado aos pais, mães,  avós e bisavós que tem a graça de ter filho(a)s, neto(a)s e bisneto(a)s.

Porto Alegre, 24 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Confissões de um (des)obediente




Há quem fale em desobediência civil, como Thoreau e Gandhi, obedecendo suas consciências.

Fala-se em 'objeção de consciência' para se negar a matar gente sob licença militar, caso de Muhammad Ali versus 'o povo' do EUA.

Há quem fale em obediência, hierarquia, disciplina, dever, moral e cívica, ordem e progresso, sem nenhuma 'objeção de consciência'.

Mas há um caso pouco falado que vou te contar: o do (des)obediente. Conheço bem, porque sou eu...

Sempre fui considerado 'um bom menino', 'educadinho', estudioso, trabalhador, enfim, obediente. 

Por isso, nunca tive nem criei maiores dificuldade na minha já distante infância, o que me assegurava poucos castigos físicos; convenhamos, já é uma grande vantagem existencial.

Aqui para nós, vou te contar, eram muito chatas tantas 'obrigações' familiares, escolares, religiosas e 'trabalhistas', esta cumprida diariamente no bolicho do meu pai.

E como te contei antes, obedecia...Todas as ordens e 'obrigações', desobedecendo minha vontade, que era a de estar nos pátios empoleirado em árvores, correndo com os amigos nas ruas em volta de nossa quadra, sem esquecer o imperdível 'jogar bola' no campinho ao lado de casa.

É dessa desobediência a si-mesmo que me refiro...

Tinha outros amigos que eram desobedientes com os pais, nas escolas, com os mais velhos, sofrendo muitas recriminações e, sim, discriminações...

Acho que vem daí esse dois sentimentos: culpa e arrependimento associados "ao porque sempre fui tão obediente"...

Confesso que haviam uns raros momentos de desobediência filial, por exemplo quando ao invés de voltar direto para casa depois da escola passava no cinema na expectativa de que o porteiro amigo deixasse entrar e ver o final de um filme da 'sessão das quatro'.

Outra desobediência que me dava grande prazer era a 'trabalhista'. Pegava um adiantamento do salário', fazia um 'vale' às escondidas de meu pai e saía correndo para a banca de revistas na praça para comprar 'revistinhas'.

Deu na vista, pela pilha de gibis acumulados, e para resolver os 'desfalques' meus pais fizeram eu vender as coleções de gibis a 'preço de banana' (para alegria dos colecionadores da praça) e instituiram uma 'mesada' que era paga no domingo e dava para o ingresso do 'matinê da uma' e mais uns drops ou chicletinho. 

Aliás, duas desobediências que pratico até hoje, cinema argentino e pernambucano e revistas do estilo 'Caros Amigos', 'Fórum', 'Cult', entre outras, algumas já extintas como "Atenção' e 'Reportagem'.

Isso tudo para te contar, caro leitor, que, agora sim, obedeço a mim mesmo, escrevendo com prazer estas 'mal traçadas linhas', enquanto pego um solzinho, cercado pelos cachorros e gatos, "ouvindo pássaros cantar, cantar"!!!


 Porto Alegre, 23 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Brasília


Quem te construiu
Brasília
Foram trabalhadores 
Do Brasil
A maioria do Nordeste
Brasileiro
Por ti chamados
Candangos
Deixaram no concreto
Cicatrizes
De sangue, suor e carne
Vermelhas
Se viva serias de pele e osso
Candangas
Tuas águas do Paranoá
Lágrimas
Derramadas pelos que morreram
Por ti
Para te levantar monumental cidade
Golpeada
Deixa-te inundar por essa brava
Gente
Bate tuas amplas e fortes
Asas
Voa ao encontro do teu sofrido
 Povo
Somente ele é que te poderá
Libertar 

Porto Alegre, 22 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A energia do medo


William Kemmler entrou para a história como o primeiro homem a ser executado em uma 'cadeira elétrica' nos EUA. 

Enquanto cometia seu delito (sujeito à pena capital), ocorria a 'guerra das correntes', - entre Tesla e Edson -, pelo controle da distribuição da energia elétrica em Nova Iorque.

A 'guerra das correntes' chegou ao ponto de fazer uma das primeiras campanhas publicitárias milionárias baseadas no medo.

O publicitário contratado por Thomas Edson armava espetáculos públicos eletrocutando cães, bezerros e outros animais maiores para comprovar os perigos da corrente alternada de Tesla e a favor da corrente contínua de Edson. 

Há mesmo uma energia, eletricidade do medo, quem sofre um grande susto, fica em choque. 

O próprio Tesla sofria de fobias tais como medo de germes e de mulheres com colares de pérolas, tanto que se isolou em um quarto de hotel no final de sua vida.

O medo tem muitas faces: enquanto brilham as estrelas no céu, a noite tem suas sombras que tomam a forma de muitos medos.

Que cara tem o teu medo? Como teu medo se manifesta? 

O que nos amedronta é o que não queremos pensar, muito menos encarar...

Já pensou? "Tenho medo até de pensar"...

Mas não entre em pânico, isto é, não se deixe agarrar por Pã, essa criatura selvagem, com pés de cabra e chifres.

Pã é uma entidade da natureza com aparência medonha que representa as forças vitais da natureza e foi demonizada pelo cristianismo.

O medo também é um grande filão da indústria do cinema com seus filmes de terror.

A fórmula infalível é o de uma ou várias criaturas medonhas que aparecem do nada em um lugar escuro.

Por que tanta atração por filmes de terror? Talvez para materializar o medo em uma figura aterrorizante que se sabe não existir fora da tela.

E que causa aquele arrepio de medo...

Outra campanha publicitária maciça é o que se autoproclamou de 'guerra ao terror'. Quantas mentiras, estereótipos e calúnias contra os árabes de fé islâmica para se apossarem de seu petróleo gerarador de energia.

Podemos dizer que o medo do terrorismo gera energia. Soaria engraçado não fossem as milhares de mortes nos países invadidos pelos EUA e seus aliados ocidentais. 

Paradoxalmente, a iluminação pública de Tesla nas cidades trocou o medo do escuro pelo medo de estranhos na noite, em especial dos 'potenciais suspeitos da polícia', pessoas de pele escura, os negros, maiores vítimas dos preconceitos raciais.

Visto sob essa forma até parece que não é a poluição luminosa - mas o medo do escuro - que impede o brilho das estrelas...


Porto Alegre, 21 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

 



terça-feira, 20 de setembro de 2016

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Para escrever basta uma caneta-tinteiro e um caderno de pauta


É muito fácil escrever...

Sim, basta uma caneta-tinteiro e um caderno de pauta...

Pauta é fundamental. Sem pauta não tem texto, entende?

Sei, o texto é apenas um detalhe, porque sem a caneta-tinteiro e o caderno de pauta não haveria texto... Já entendi, mas é que, às vezes (quase sempre), tenho a caneta-tinteiro e o caderno de pauta...em branco.

Ah, mas não tem pauta, tem?

Tem, óbvio! Mas não tem texto!!!

Péra...Como assim?!...Quer dizer que com a 'bola picando' não consegue chutar, é isso?

Tá, entenda como quiser...

Cara, não tem como errar: se a bola tá picando, chuta!!!

Não gosto de futebol...

Ok, e de sinuca?...

Sinuca de bico.

Vou te dar o 'caminho da roça', ou melhor, o 'caminho da pauta' para escrever; seguinte: a caneta-tinteiro e e o caderno, tem de estar, aquele escrevendo, e este aberto, sendo escrito...

Pô, não precisa tripudiar, né?

Sério, tem que 'suar a camisa' neste jogo, seja qual for...

Sei...

O 'feijão com arroz' é o 'pontapé inicial', se é que me entende...

Lá vem você com o futebol!!!

Isso, o 'pontapé inicial' da escrita é escrever muito. Como diz o dito popular: "escrever à torto e à direito."

Mas isso qualquer um faz, não é literatura.

Então, o que está esperando?!...



Porto Alegre, 19 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Paixão


"Foi lá por 85"

Edu Cezimbra

Diário de um exílio voluntário


"O desafio da modernidade é viver sem ilusões, sem se tornar desiludido." Gramsci.

Fria manhã ensolarada.

Sentado no pátio ( "fazendo a fotossíntese", como diz um amigo), tomo meu mate quente, que me aquece por dentro, e enquanto o sol me aquece por fora escrevo este diário de um 'auto-exilado'.

Hoje de manhã fiquei "meio que sem vontade" de abrir o computador e acessar as notícias, especialmente as políticas e econômicas. Há tempo que já não escuto as rádios e assisto TVs comerciais, mas agora essa avalanche de medidas neoliberais velhas, acusações infundadas contra presidentes do país, e tantas iniquidades, tornaram o ambiente virtual tão denso e pesado quanto a 'grande' mídia.

Escrevi no facebook dias atrás: 

Honestamente, nessa quadra da vida, quase 60 anos, mais de 20 anos amargando a ditadura militar, preferiria estar criticando a Dilma enquanto Presidenta do que a defendendo fora de um governo eleito democraticamente, se é que me entendem...
Esse inverno que retarda a primavera... 

Primavera que mesmo assim emite seus sinais de vida na brotação de folhas verdes claro nas árvores, na floração do abacateiro (vem um desejo de esquecimento). Ao mesmo tempo os sabiás e os bem-te-vis já começaram a entoar seus cantos de amor (serve de consolo).

Uma formiguinha carrega um pedaço de folha verde três vezes maior que ela, eita formiguinha forte!

Como disse e reafirmo: para quem  já passou pelo tacão de uma ditadura militar e após teve de aturar uma 'Nova República' com os Sarney, Collor, Itamar e FHC, com todas as suas medidas neoliberais desastrosas para o trabalhador brasileiro, assistir a repetição disso é como botar o dedo em uma ferida que se considerava cicatrizada, mas não estava.

Sinto que é muito bom ter um lugar no meio do mato pra me esconder, fugir desse clima opressivo da política e da metrópole, da polícia e da poluição, da canalhice e da corrupção.

Esta 'retirada estratégica', sei bem, é uma fuga. Fuga instintiva de tanta violência. Ajuda também a me concentrar para escrever e escrever ajuda a me concentrar. 

Respiro um ar puro e perfumado de água e pólen e deixo "a mente quieta, a espinha ereta" (grande Walter Franco!) para não adoecer. 

É que vejo pessoas próximas adoecendo por tristeza com a situação brasileira.

Algumas, mais calejadas pela ditadura militar, mantém um sorriso nos lábios e um brilho do olhar apesar de tudo. Admiro esse tipo de pessoa.

Um latido alto do cachorro grande do vizinho quebra a harmonia da natureza, como se ameaça houvesse, imagine...

No dia da farsa do 'impeachment' de Dilma escrevi um pequeno poema que exprime o meu estado de espírito e com o qual concluo esse diálogo interior com a natureza e contigo, caro leitor: 

Podem arrancar todas as flores do jardim, mas a primavera virá com a boca cheia de sementes.

Porto Alegre, 16 de setembro de 2016.

Foto e Arte: Mario Pepo Santarem

Edu Cezimbra 

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Na batalha



Como vai? Tudo bem? - Na batalha.

A batalha pode ser um 'trampo', lícito ou ilícito, formal ou informal, reconhecido ou discriminado.

Ou 'basquete'. Curioso, duas gírias bem díspares para designar o trabalho (deixemos o trampo de lado).

"O trabalho enobrece o homem", correto? 

Já se foi o tempo em que os nobres não se enobreciam no trabalho, considerado vergonhoso pois era função dos escravos e servos. 

Aliás, o próprio termo trabalho etimologicamente vem do latim 'tripalium', instrumento de tortura usado para obrigar o escravo a trabalhar.

Foi muito depois que um barbudo de nome Marx (não precisa apresentações) inverteu o sentido de trabalho dando ao termo conotações redentoras...

Voltemos então, sem termos saído, à batalha...Quem ia e ainda vai realmente à batalha?  O soldado, óbvio...

Os soldados, na época romana, eram camponeses que aguardavam ansiosamente a convocação para mais uma campanha militar para fugir da dura vida no campo.

Qual era o 'soldo do soldado'? O sal, esse mesmo, o sal de cozinha! Vem daí a palavra 'salário', por mais estranho que possa parecer aos olhos do trabalhador.

E o basquete, pergunta você (ou não)? O basquete como sabemos é um jogo de bola ao cesto. Convenhamos, com poucos adeptos no Brasil, talvez porque o brasileiro prefira usar os pés para jogar a bola...

O futebol, esporte nacional, não é associado ao trabalho, percebe? 

A 'pelada' na praia, no campinho ou no clube é sinônimo de lazer com os amigos. Embora seja encarada como uma 'batalha' pelos dois times...

Outro dia, soube que um trabalhador francês processou o Estado por...  tédio!Isso é, por ter passado uma vida inteira trabalhando em algo que o aborrecia imensamente. Se essa moda pega...

No fundo, no fundo, não mudamos muito...

Ainda sonhamos com batalhas para fugir do tédio. 


Porto Alegre, 15 de setembro de 2016

Foto: Elles sont féroces, Guerre n°5, 1808, de Goya

Edu Cezimbra 




quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Calabouço impenetrável


"Foi lá por 85"

Foto: O Homem Invisível, de Salvador Dali

Edu Cezimbra

O Vidente Lima Barreto em 'Os Bruzundangas'



Na Constituição não está escrito assim: " toda a vez que um artigo ferir interesses de parentes de pessoas da ‘situação’ ou de membros dela, fica entendido que não tem aplicação." 

Escrito não está o tácito acordo que após remover uma presidente democraticamente eleita através de uma manobra jurídica-parlamentar, dois dias depois muda a mesma disposição para blindar o usurpador que assumiu.

Aliás, o pré-requisito do 'presidente' : deve ser um deslumbrado e completo idiota que recebe o pomposo título de 'Manda-Chuva' (sem alusão ao gato).

Quanto à justiça é chamada de 'chicana' pela sua venalidade.

Todo o parlamento aberta ou sorrateiramente é de 'situação', obviamente, pois não querem perder as vantagens 'inerentes à situação'.

O país em questão recebeu o nome de 'Bruzundanga' e é descrito com espírito satírico por Lima Barreto, escritor afro-brasileiro, no livro intitulado 'Os Bruzundangas', de 1923(!?)...

Até parece que  Lima Barreto era vidente, não?

Porto Alegre, 14 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra



 




terça-feira, 13 de setembro de 2016

Dilema


Estou com um dilema...
E é grave isso?!
É grave sim. Não sei se quero continuar...
Continue...
Esse é o dilema.
Digo, fale mais...
Ah, tá. Estou pensando em mudar.
Pra onde?
Mudar, mas sem mudar, entende?
Sei...
Quero fazer outra coisa.
Que coisa...
Sabe, outra coisa que me interesse, sei lá...
Ah, isso é muito grave, mesmo. É pior que um dilema, é um problema sem solução.
Ai, não me assusta...
Calma...isso tem jeito! 
Tomara!
Tem que ser um dilema.
Não entendi...
Se tu não sabe o que quer não tem dilema, tem problema sem solução.
Entendi...
Tem mais, para ter dilema, antes precisa ter pelo menos dois caminhos que não vão para o mesmo lugar que já se sabe onde é.
Nossa, isso é demais pra minha pobre cabecinha!
Ótimo, aí sim vai começar a revolução.
Credo...
É revolução no sentido figurado, entenda bem. A tal mudança, mesmo, na real, saca?
Radical, cara...
Isso aí... Não tem dilema nenhum onde não tenha uma encruzilhada. Na encruzilhada é que se muda o rumo.
Estou sem um dilema...


Porto Alegre, 13 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra
 

sábado, 10 de setembro de 2016

Escrevo porque preciso, publico porque amo



Caro leitor,

Venho pedir a sua compreensão.

Sei que estou escrevendo "a torto e a direito"... 

São mal traçadas linhas, sei bem, nesses meses em que estou publicando nesse blogue. porque escritas no atropelo dos acontecimentos.

Como disse: impressões como se escritas com caneta-tinteiro e mata-borrão.

É que escrevo porque preciso, publico porque amo.

Graham Greene disse que que "escrever é uma forma de terapia".

Para mim é uma necessidade. 

E compartilho porque amo. 

Amar, Verbo Intransitivo, disse Mário de Andrade.

Amo publicar.

Faço questão de publicar, como ato de fé na literatura.

Publicarei sempre, nesse blogue, serei mais um 'blogger' a me unir a muitos mundo a fora, que teimam em não ser "legumes em frente ao televisor", como disse Rubem Fonseca.

Nesses meses, já tive o prazer de ter mais de dezesseis mil leitores, para minha grata surpresa.

Agradeço, de coração, essa atenção.

Se puder seguirei escrevendo para você...



Porto Alegre, 10 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra




sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Hoje


Porto Alegre, 09 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

Escreva aí


Todo apolítico é um político que se faz de morto para ganhar sapato novo...
 
Bertolt, não podemos escrever isso...
 

Então escreva aí:


Porto Alegre, 08 de setemboro de 2016.

Imagem: Google

Edu Cezimbra

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Extradição


EXTRADIÇÃO

Saudade dos bons
Tempos do passado
Que nunca aconteceu
Do que se sonhou
E se esqueceu
Sem nada levar
Do que não se viveu

Soledade de si
Mesmo assim
Como se medo
Tivesse do próprio
Ser a encarar
A sombra trêmula
Da silueta que espelha

Saudade é soledade
Na desviada busca
De ansiado esquecimento
Soledade é saudade 
Distante de próximo
Feita melancolia
De voluntária extradição

Porto Alegre, 08 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Brasil, ame-o ou deixe-o


Vô, que bonito aquele 'plástico' (sic) ali: "Brasil, Ame-o ou Deixe-o"!

Bonito coisa nenhuma, isso é coisa desses 'gorilas' fdp.

Como assim?!

Isso é coisa desses 'milicos' que derrubaram o Jango...


Hoje lembrei desse diálogo inusitado de um neto com seu avô.

O adesivo com o infame slogan estava colado no vidro traseiro de uma kombi caindo os pedaços em frente a janela de seu pequeno bazar...

Corria o ano de 72 ou 73, auge da ditadura militar, com repressão sangrenta a todos os que se opusessem a ela.

Confesso que na época não entendi muito bem a observação aguda de meu avô.

A mim, um guri de treze, catorze anos, soava bonito o slogan  "Brasil, Ame-o ou Deixe-o" ao lado de uma bandeira brasileira. 

Afinal, estávamos ainda eufóricos com a conquista da 'Copa de 70' no México com tantas manifestações de patriotismo e amor à "pátria amada, Brasil"...

Éramos, então, "noventa milhões em ação .  "Prá frente, Brasil" era a música favorita cantada a plenos pulmões por todos.

Não sei se meu avô sabia  das torturas e assassinatos de pessoas opositoras da ditadura militar já que havia censura total à imprensa e aos artistas.

Mas ele sabia, sim, o quanto era perverso usar de sentimentos e símbolos  tão caros a cada brasileiro para legitimar uma ditadura que cassara o registro de seu PTB, mandatos de políticos e exilara Jango e Brizola, entre tantos.

Acho que mesmo sem entender muito as razões de meu avô quanto a gravidade do momento político o que me marcou mesmo foi a sua indignação (junto com a de meu pai) com os militares, apelidados de 'gorilas' pelos petebistas e comunistas.

Hoje, quando vejo a grande mídia ocultando e condenando manifestações democráticas (sem censura) e políticos usando slogans muito parecidos aos da ditadura me vem a mesma indignação que senti em meu avô e meu pai.

E me consola saber que minha companheira e meus filhos também  tenham a mesma indignação junto com milhões de brasileiros. 

Porto Alegre, 07 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra 
 




terça-feira, 6 de setembro de 2016

Tudo ou Nada


TUDO OU NADA

O que mudou em cem anos?
Nada que se desejou...
Tudo que se temeu...

O que mudou em mil anos?
Nada que se temeu...
Tudo que se desejou...

O que mudou nesse tempo?
Não foi o desejo de tudo...
Não foi o temor do nada...

E o que nunca mudará?
O nada que é o tudo.
E o que sempre mudará?
O tudo que é o nada.

Porto Alegre, 06 de setembro de 2016.

Edu Cezimbra

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Exorcismo Caboclo



Há muitos anos atrás, um camponês desconhecido chegou a povoado no caminho de volta a sua terra.

Trazia apenas a roupa do corpo e muita coragem na alma.

Seus modos eram rudes, como sabem ser os modos de quem não tem traquejo social.

Palavras poucas - mas certeiras - não erravam o alvo, questionando crenças dos moradores do povoado.

Neste lugarejo também havia um pastor que a todos comandava com a Palavra de Deus. 

Quando a palavra do estranho colidiu com a palavra do pastor houve tempestade no lugarejo.

Nada causa mais ódio em um pequeno povoado do que a diferença e a independência de pensamento.

A paixão cega, quando reprimida...
 
O fanático pastor forçou um ritual de exorcismo para expulsar o demônio que tornava o caboclo tão desobediente a sua palavra, com resultado trágico.

A partir de então, nesse vilarejo isolado, aspirantes a exorcistas passariam a ter muito cuidado com demônios a serem exorcizados, pois um deles poderia ser muito poderoso...

* Conto livremente inspirado em uma história real, contada no filme brasileiro "Oração do Amor Selvagem", com Chico Diaz.


Porto Alegre, 05 de setembro de 2016.

Foto: Divulgação

Edu Cezimbra