sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Nos alambrados das palavras e das frases


Frases são palavras alinhadas em uma sequência lógica e as palavras são sílabas justapostas.

Até aqui nenhuma novidade...

Então as frases são orações com sujeito, verbo, predicado e objeto direto ou indireto... Não, isso é gramática.

Já o dicionário contém palavras organizadas em ordem alfabética, porém não adianta decorar todas as suas palavras para entender ou escrever uma frase.

As palavras até podem estar alinhadas em um dicionário mas não formam frases. Note bem: nenhuma frase. Formam, isso sim, o léxico de uma língua.

E aí lembro do dislético. Será o sujeito que não sabe ler? Também não. Dislexia é quando não se consegue dar sentido às palavras encadeadas em uma frase.

Até se pode dizer sem ser politicamente incorreto  que o analfabeto mais difícil é o dislético que não consegue ler por uma lesão cerebral.

O analfabeto funcional não tem lesão cerebral...visível.

Temos também a figura do frasista. Aquele personagem, hoje muito atuante no Facebook e no Twitter, que escreve frases intencionalmente engraçadas (ao menos para ele)...

Há quem conheça as letras e como dizia aquele 'índio véio' da campanha gaúcha, "não sei acoierá (acolherar) as letras"....

Mal sabe o 'campônio' que mesmo depois de 'parar rodeio' das letras a boiada prosseguirá desgarrada. 

Para 'tocar a boiada' é preciso o sinuelo do sentido, que até  boi entende...

Tchê, acho que não entendi ( o gaúcho do campo não falaria assim). Antes diria: "tô mais perdido que cusco em tiroteio ou cego em procissão".

Agora faça o seguinte: dê ao 'vivente' o livro de poesia gauchesca do João da Cunha Vargas ou mesmo um livro do João Simões Lopes Neto, seja 'Contos Gauchescos ou 'Lendas do Sul'. 

Capaz de entender as frases até por adivinhação!

E, curioso, o leitor de outras regiões é que não entenderia metade das palavras e das frases.

Por exemplo, este parágrafo do livro de Cyro Martins, 'Estrada Nova':


"Janguta sofrenou o matungo, cravou-lhe as esporas e derrubou-lhe o rebenque virilha abaixo. O tostado que tropicara por vir estropiado e meio dormindo na mormaceira da estrada, depois de trotear três ou quatro léguas no pedregulho áspero espantou-se com o relhaço e enveredou para um lado, de pescoço torcido, o freio agarrado nos dentes, cego, à toa, indo esbarrar de peito na beira do alambrado."

Entendeu?... 


Porto Alegre, 4 de novembro de 2016.

Edu Cezimbra







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