terça-feira, 30 de maio de 2017

Viagem para o interior



A mim, agrada muito viajar para o interior do estado. 

Lembro que, quando adolescente, muito me incomodava essa "classificação" de interior, acho que me soava como "inferior".

Após muitos anos, dou-me o luxo de mudar o sentido de "interior do estado" para algo - não digo superior -, porém com tanta igualdade quanto a capital do estado.

O interior é que sustenta a capital. Aliás, até em termos populacionais.

Também se fala "viajar pra fora", com o mesmo sentido. Curiosa contradição...

Afinal, de onde vem essa "supremacia" da capital, admitida mesmo por parte dos "interioranos"?

Quando falo com moradores dessas cidades pequenas percebo que há uma certa tendência a exaltar as "virtudes" da capital, em especial no que diz respeito à facilidade de acesso aos serviços e equipamentos culturais (fato).

Ao mesmo tempo, para muitos moradores das cidades menores, na capital tem a "violência" (também um fato).

Na recente viagem que fiz ao interior comentei com minha esposa o quanto ela tinha dormido bem a noite inteira, em meio ao silêncio e a paz do lugar.

E isso é o principal ponto a favor do "interior", um aspecto externo que aparece no modo de ser e no estilo de vida nessas cidades.

Como é bom caminhar pelas calçadas, atravessar as ruas sem correr o risco de ser atropelado pelas pessoas e pelos carros...

Ar puro, sem o ruído ensurdecedor das grandes cidades, que permanece como pano de fundo mesmo quando as pessoas se recolhem aos seus apartamentos.

E aí, outro aspecto de uma pequena cidade que muito valorizo: sem adensamentos e sem verticalização desnecessários.

Quando vou a uma cidade que ainda mantém as suas primeiras casas, então é uma alegria! Que beleza de construções! Espaçosas, com muitas aberturas, porão, pé direitos altos, enfim muito conforto para seus felizes moradores.

Embora dê a parecer, não idealizo as cidades do interior; sei que há muitas dificuldades a serem enfrentadas e superadas pelos seus habitantes, mas acredite, são bem menores do que as das grandes e congestionadas metrópoles...

Porto Alegre, 30 de maio de 2017.

Foto: Francisco D. Cezimbra

Edu Cezimbra
 




sexta-feira, 26 de maio de 2017

Dois pesos, duas medidas


Dois mercadores discutiam uma transação em um dos raros poços do deserto.

- Nassif, por Alá, essa minha especiaria vem da Índia, vale muito!

- Salim, pelo Profeta, a minha seda vem da Pérsia, e vale ouro!

- Assim seja, mas de que adiantam sedas e ouro se a carne é podre...

- Maktub... a carne de nada valerá se não for vendida para um banquete de paxás.

- É impossível comparar a pimenta com a seda, Salim...

- Um punhado da minha pimenta vale mais do que uma arroba da tua seda!

-   Qual nada, seria preciso espalhar pimenta por todo o Saara para chegar perto do valor da minha seda!

Nisso, o caravaneiro-chefe chega desesperado à tenda onde negociavam os dois mercadores:

- O poço secou, que Alá nos proteja, vamos morrer de sede se não sacrificarmos os seus camelos!

Um mulá em peregrinação para Meca, que escutava a discussão, comenta em voz alta:

- Quando há dois pesos e duas medidas, o fiel da balança é o camelo...


Porto Alegre, 26 de maio de 2017.

Foto: Viajantes Aprendizes

Edu Cezimbra

terça-feira, 23 de maio de 2017

Velhos tempos


Quando familiares, parentes distantes, velhos amigos se reencontram, a conversa gira em torno dos "velhos tempos", já percebeu?

Casos (ou causos), anedotas, personagens, conhecidos retornam à memória de todos, contando sempre com a boa memória de alguns do grupo saudosista.

Agora, lembro, que já escrevi sobre essas lembranças, da outra vez, sobre os amigos velhos.

Hoje, gostaria de refletir sobre essa situação ( feliz para quem conhece as história e infeliz, melhor, tediosa. para quem não conhece) de recordações do "tempo antigo".

Portanto, não se preocupe, caro e raro leitor, não vou relembrar histórias que não te dizem respeito, pelo contrário...

Arrisco que o que ocasiona este "fenômeno" afetivo é o fato de que isso  cria vínculos, no caso, recria...

Nesse momento, algum leitor mais gaiato deve estar pensando: "ou falta de assunto".

Ao que eu perguntaria, alarmado: " do autor dessas mal-traçadas linhas?!'...

Lógico que não, o arguto leitor acertou, - em parte...

A não ser que seja um grupo de ex-colegas de faculdade bem-sucedidos contando vantagens um sobre os outros, pessoas que se reencontram tendem a reafirmar seus laços afetivos através desse mágico ritual de acender o fogo da memória e aquecer a confraria.

Então, meu caro, não fique chateado quando não conhecer as histórias de vida de seus novos parentes ou amigos.

Aproveite para se apropriar delas e começar a criar vínculos com eles...

Porto Alegre, 23 de maio de 2017.

Foto: pintura de Gilbert

Edu Cezimbra



sábado, 20 de maio de 2017

A triste atualidade de Lima Barreto


Lima Barreto é um escritor brasileiro do início do século XX que parece estar escrevendo para o século XXI, tamanha sua atualidade.

No "Diário do Hospício" anota algumas observações e reflexões de rara percuciência.

Sobre a polícia faz uma fina ironia quando afirma : "não quero, com minha rebeldia, perturbar a felicidade que eles vêm trazendo à sociedade nacional, extinguindo aos poucos o vício e o crime, que diminuem a olhos vistos".

Não poupa os "doutores", com sua aguda pena crítica e sua experiência acadêmica, ao dizer que o médico que o atendeu lhe parece "desses médicos brasileiros imbuídos do ar de certeza de sua arte, desdenhando toda atividade intelectual que não a sua e pouco capaz de examinar o fato por si".

As citações são do livro " O Cemitério dos Vivos", edição da Biblioteca Nacional que inclui o "Diário do Hospício", ambos registrando a horrível experiência de Lima Barreto nas várias internações que sofreu devido às alucinações causadas pelo álcool.

Ressalto que a loucura é dissecada exaustivamente nesse livro, onde as descrições brutas dos métodos de tratamento e da própria ciência que os embasavam, tornam a obra leitura obrigatória a quem se interessa pela antipsiquiatria e a luta manicomial, entre outros.

Não há exagero nenhum em dizer que Lima Barreto  estava muito além do seu tempo,- e porque não, do nosso -, já que muitas das críticas que faz às nossas instituições  seguem atualíssimas à espera de soluções que ele, com seu espírito indomável de D. Quixote apontava.


Porto Alegre, 20 de maio de 2017.

Foto: Revista Cult

Edu Cezimbra

quinta-feira, 18 de maio de 2017

A Lei de Gérson


A lei de Gérson do "leve vantagem em tudo você também" vigora na ilha da fantasia conhecida por Hi-Brazil.

Contar vantagem é consequência óbvia...

- Jr é doutor...

- O meu filho é diretor...

- Minha tia é rica...

- A minha filha mora nos Estados Unidos...

- D. Pedro II dormiu na cama da minha bisavó...

Ao ouvirem a última exibição de status todos pararam boquiabertos, foi automática a pausa, como se o próprio imperador falasse.

Todas as vantagens anteriores desmancharam no ar feito bolhas de sabão diante dessa vantagem soberana. 

Foi um balde de água gelada no status quo...

Custaram a se restabelecer do choque. Após um constrangido silêncio, uma das pessoas do grupo perguntou a quem detinha a real vantagem:

- Foi bom pra sua bisavó?!...

O desfecho da conversa não vem ao caso, embora o astuto e raro leitor possa adivinhar...

O que fica de "moral da história" é que quem "leva vantagem em tudo" também tem um "nome a zelar" e faz questão de manter as aparências a qualquer preço, custe o que custar...

Nota: qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

Porto Alegre, 18 de maio de 2017.

Imagem: Google

Edu Cezimbra


quarta-feira, 17 de maio de 2017

Arrependimento




Arrependimento do que não disse,
Arrependimento do que não fiz.
Faria tudo de novo,
Diria tudo o que não disse,
De qualquer jeito,
Seja jamais,
Seja sempre.
Nunca é cedo
Para quem tarda
Em se desfazer.
Faria tudo de novo,
O que não fiz.
O que poderia ser desfeito...


Porto Alegre, 17 de maio de 2017.

Imagem: Arlequim, Pablo Picasso

Edu Cezimbra

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Conversa de loucos




O Hospício Brasil aumentou sua taxa de ocupação no último ano em função da polarização que o país atravessa.

Muitas pessoas se internaram mas seguem usando as redes sociais.

Há um afã em se meter em conversar alheias (onde não são chamadas) para repetir sem pensar o que escutam na TV.

Isso por si só é de enlouquecer qualquer um...

- Primeiro a gente tira o inocente!

- Ele e ela sabiam de tudo!

- Temos que começar prendendo os outros.

- Ele rouba, mas é o nosso corrupto.

- O comunismo tomou conta do Brasil! 

- Tinham um projeto de poder mas se deram mal.

Um interno antigo passa pelo grupinho que discursa em altos brados e sussurra para outro louco novato.

- Tem gente se fazendo de louco para fugir da responsabilidade...

Porto Alegre, 15 de maio de 2017.

Edu Cezimbra

domingo, 14 de maio de 2017

Dia das Mães


No Dia das Mães

Todo os filhos

Lembram delas


Se todos os dias 

Fossem das mães

Não haveria guerra


Se todos os dias

Fossem das mães

Não haveria fome


Se todos os dias 

Fossem das mães

Não haveria miséria


No Dia das Mães

Todos os filhos

Deveriam começar a

Honrá-las  todos os dias



Porto Alegre, 14 de maio de 2017.

Foto: Elton Vergara-Nunes

Edu Cezimbra

sábado, 13 de maio de 2017

Apocalipse global


A Terra desintegrou sem que ninguém percebesse. Se fosse um asteróide em rota de colisão com a Terra, astrônomos teriam previsto.

Especula-se que tenha entrado em um buraco negro e se desmaterializado instantaneamente.

Não houve tempo para despedidas, cada um cumprindo sua rotina ou adormecidos.

Não senti dor, mas não queria aceitar de início.

Explico, de alguma forma o espirito (chame como quiser, consciência, campo astral, etc) sobreviveu  em um nada.

O inferno deve ser mais divertido que o nada. Talvez, por isso, muitos negam a destruição do planeta, que virou poeira cósmica.

- Ah é, então prova! - provoca um novo cético do apocalipse global.

Bem, pelo menos isso não acabou...


Porto Alegre, 13 de maio de 2017.

Foto: Google

Edu Cezimbra

sexta-feira, 12 de maio de 2017

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Veridiana e Hermes



Em um país - não muito distante daqui -, Veridiana estava muito só diante de tantas deturpações em nome de sua vocação.

Veridiana trabalhava como jornalista em uma importante revista semanal, mas ficou um bom tempo desempregada.

A revista tinha demitido vários de seus colegas e ela foi junto, preocupada com seu futuro profissional, embora com certo alívio...

A desculpa foi contenção de custos, entretanto Veridiana sabia que o novo editor não gostara nada de sua posição independente, sempre buscando a verdade dos fatos.

Hermes era seu nome. Tinha atuado no exterior e era considerado um editor moderno, pragmático, com visão do mercado.

Foi contratado para mudar radicalmente a proposta editorial da revista.

Tinha o perfil perfeito para tanto. Rápido, ardiloso, sabia forjar uma notícia como ninguém.

Chamou Veridiana em sua sala redecorada no estilo art déco e foi logo elogiando o seu "excelente" trabalho.

- Minha cara - disse Hermes, em tom melífluo -, precisamos muito de ti nessa nova fase da revista. Vamos investir em política e para isso conto com teu talento para as matérias que pretendo publicar.

- E sobre o que seriam essas matérias, chefe?- perguntou Veridiana, 
interessada.

Hermes aproxima-se, põe a mão no ombro de Veridiana, e lhe sussurra no ouvido: - são matérias que requerem muita imaginação, capacidade criativa e pragmatismo, entende...

- Hermes, isso está mais para crônica do que para reportagem investigativa- retrucou Veridiana, tirando o corpo fora.

- Veja bem, como te disse, tem que ser prag-má-tica...

Veridiana era jovem mas não era inexperiente. Tinha faro para perceber uma mentira, graças à sua função de repórter investigativa. Entendeu rapidamente o que podia esperar dali para frente.

A linguagem rebuscada de Hermes escondia suas intenções de atacar com todas as armas,  sistematicamente, o governo eleito usando de mentiras, calúnias e difamações contra os seus membros, o partido e movimentos sociais que os apoiavam.

Veridiana ainda suportou por alguns meses o assédio moral do editor, que a cada dia lhe cobrava matérias inverídicas ou tendenciosas, censurando regularmente suas tentativas de burlar a linha editorial da revista.

Atualmente, Veridiana mantém um blog muito acessado por pessoas interessadas em um jornalismo que respeite a inteligência dos leitores.

Como falado no início dessa matéria, Veridiana e seus poucos leitores não se encontram muito confortáveis nesse país não muito distante daqui.


Porto Alegre, 11 de maio de 2017.

Foto: cartaz do filme "O Mercado de Notícias"

Edu Cezimbra


terça-feira, 9 de maio de 2017

O preço da eterna vigilância


"O que o rabino queria dizer era claro: se você nunca pode escapar ao olhar atento de uma autoridade suprema, não tem outra escolha senão respeitar os ditames por ela impostos. Não pode sequer cogitar trilhar o próprio caminho além dessas regras se você acredita que está sendo sempre vigiado e julgado, na realidade não é um indivíduo livre."

Obediência,  respeito aos mais velhos, disciplina, entre outros valores morais, são ensinados desde cedo. 

Afinal, "é de pequeno que se torce o pepino", certo? E lá vai o pepino para a sociedade...

Todos se tornam reféns, prisioneiros, dependentes de autoridades externas com "medo à liberdade", disse Erich Fromm.

"Todas as autoridades opressoras - políticas,religiosas, sociais, parentais - têm por base essa realidade vital e usam-na como ferramenta importante para impor ortodoxias, forçar o comprometimento das regras e eliminar a dissidência.É de seu interesse transmitir a mensagem de que elas não deixarão de saber  nada do que seus súditos façam."

 Culpa, medo, angústia, hipocrisia, são sentimentos incorporados por todos para sobreviverem em uma sociedade repressora. 

Alguns até enchem a boca para rezar "manda quem pode, obedece quem tem juízo". 

"Esse menino não tem juízo" reclama a mãe para a professora..."Quando vais criar juízo, fulaninho?!"

Talvez, o mais doentio desse tipo de opressão perversa, seja a vontade de ser também um opressor, pois necessitam dar vazão à sua própria opressão.

"Muito mais eficaz do que uma força policial, a eliminação da privacidade neutraliza qualquer tentação de se desviar das regras e normas."

O autor desses parágrafos que destaquei é o jornalista Glenn Greenwald e eu o chamaria de intelectual norte-americano pela profundidade de suas reflexões sobre a liberdade, a privacidade e a autoridade neles contidos.

O livro é uma reportagem investigativa intitulada "Sem Lugar Para Se Esconder" conta a história de Edward Snowden, da NSA e da denúncia da espionagem do governo americano que foi uma autêntica bomba estourada na política de segurança nacional dos EUA e em seus ideais de democracia, liberdade e privacidade.

Para o leitor atento (como é o meu raro leitor) , fica óbvio porque deixei para dar crédito ao autor desse importante livro no final dessa despretensiosa crônica e forte recomendação de leitura.

Mas, atenção!, friso que a leitura desse livro não é recomendável para pessoas paranóicas ou fóbicas... 


Porto Alegre, 9 de maio de 2017.

Foto: cena do filme "A Fita Branca"

Edu Cezimbra


quinta-feira, 4 de maio de 2017

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Inimigos


"Perguntei-lhe se não era verdade. porém, que os bens eram acumulados pelos senhores e bispos, através dos dízimos, e que portanto os pastorzinhos não estavam combatendo seus verdadeiros inimigos. Respondeu-me que, quando os inimigos verdadeiros são demasiados fortes, é preciso então escolher inimigos mais fracos. Refleti que por isso os simples são assim chamados. Somente os poderosos sabem com muita clareza quem são seus verdadeiros inimigos."

Acrescento que os chamados "inimigos mais fracos" de Salvatore, um "simples", eram os judeus.

As hordas que percorriam as estradas e povoados na Europa medieval saqueavam prioritariamente as propriedades de judeus.

Perceba que Umberto Eco, em seu consagrado romance "O Nome da Rosa" (de onde tiramos o excerto acima), coloca na Idade Média temas polêmicos atualíssimos.

No caso das heresias, que induziam os "simples" por força de um pregador a saírem campo a fora saqueando, vale uma leitura do capítulo em que Adso, confuso, tenta entender as variadas heresias, assim julgadas pela igreja através da inquisição. 

É o franciscano Guilherme  que tenta trazer para o noviço Adso um pouco de entendimento sobre os conflitos da época, especialmente em relação às várias ordens religiosas, como também entre a igreja e os "laicos" representados pelos senhores feudais e os príncipes.

Em suma, os "hereges"  também eram usados contra os inimigos dos vários lados em disputa pelo poder, quando não dirigidos contra o "inimigo mais fraco".

Heresias podiam, por outro lado, serem condenadas ou aceitas pelo Papa, de acordo com as conveniências, como nos mostra Umberto Eco nesse diálogo entre Adso e Guilherme.

" E por que alguns os apóiam?"

" Porque servem ao seu jogo, que raramente diz respeito à fé, e mais frequentemente à conquista do poder."

 " É por isso que a igreja de Roma acusa de heresia todos os seus adversários?"

" É por isso, e é por isso que reconhece como ortodoxia a heresia que pode reconduzir para seu controle, ou que deve aceitar porque se tornou muito forte e não seria bom tê-la como adversária."

É ou não é atualíssima essa obra-prima de Umberto Eco, caro e raro leitor?...


Porto Alegre, 03 de maio de 2017.

Foto do filme "O Nome da Rosa"

Edu Cezimbra


terça-feira, 2 de maio de 2017

A Cartomante


Um cartazete escrito à mão, colado em um poste de luz prometia: "Trago seu amor de volta em 24 horas".

Liguei imediatamente para o número do celular de Madame Circe e marquei uma consulta, sessão, sei lá...

Estava tão desesperado que tentei uma última cartada...

Madame Circe atendia em sua própria casa onde se chegava de barco.

Esperava encontrar uma senhora gorda, grisalha e enrugada. Qual não foi minha surpresa quando me deparei, no ancoradouro, com uma linda mulher, morena, trajando um vestido branco longo que lhe delineava as curvas sensuais.

- Sou Madame Circe, marinheiro, suba ao convés.

- Muito prazer, balbuciei, sem esconder minha surpresa...

Não entendi por que me chamou de marinheiro, talvez brincando por eu ter chegado em um bote, vá saber...

- Então, marinheiro, tu estás perdido...

- Isso mesmo, assim me sinto...mas como tu sabes disso?!

- Sou feiticeira, meu bem, sei de tudo o que se passa nas almas dos homens.

- Estou vagando sem rumo há anos e não consigo achar um rumo na vida.

- Isso é incomum! Sabe, geralmente quem vem a mim quer recuperar um amor perdido. Escolha uma carta...

- Então, eu perdi meu amor...próprio há muitos anos atrás. Como faço para achar?

- Ulisses é o teu nome, e quem vai te ajudar a recuperar o teu amor-próprio é o próprio amor.

- Não entendi...

- Aqui na carta mostra que estás dividido entre duas mulheres. Note bem, não sou freudiana, prefiro Jung, mas a mulher mais velha é tua mãe e te impede de partir. 

- E a outra, quem é? - perguntei ansioso -, tu sabes quem é essa jovem e onde posso achá-la?

- Sei...o nome dela é Penélope e mora em um lugar distante chamado Ítaca, onde tem uma confecção. A propósito, gostas de churrasco grego?...


Porto Alegre, 02 de maio de 2017.

Foto: Pinterest

Edu Cezimbra

Aforismos de facebook


 

Se quem produz é o trabalhador, quem o explora é o parasita.

 

Deixa de demagogia, a casa grande nunca comeu na senzala.

 

Metade do país votou no BBB. - Abstenção intelectual também foi grande...

 

Lixo da TV aberta é o mesmo da TV fechada. Diferença: na TV fechada não fede tanto.

 

O patriarcado é uma invenção política, portanto pode ser "desinventado".


Tão perigoso quanto um evangélico em missão é um "esotérico" sem iniciação.

 

Briga de cachorro grande essa do Putin e o Trump. - Sim, e quem apanha é o Assad.

 

O Trump está Putin com a Rússia. - Aí, ataca a Síria, queria ver atacar a Rússia...

 

"Ora (direis) ouvir estrelas!Certo
perdeste o senso!" Bilac, e sem radiotelescópio.

 

O lucro é privado mas a dívida é pública. - E quem paga somos nós.

 

Quem pela boca bosteja
ou é leitor
ou se limpa com a veja.

 

E a corrupção? Casou, agora só anda de mãos dadas com a privatização...

 

O "Estado não faz greve", - só se ausenta...

 

A solidão não é ruim, o que é péssimo é a alienação em meio da multidão.

 

A tecnologia das redes sociais aumentou a solidão. - Bom pra escritor...

 

A desilusão com a esquerda não deve ser maior que a desconstrução da direita.

 

É preciso, sim, denunciar o fascismo mas sem promover o seu candidato

 

Que tal parar de falar no "coisa-ruim" fascista. E só o que ele quer: mídia...

 

Ando sem paciência com o futebol, assisto só uns 90 minutos.

 

Há quem confunda "self made man" com "self se quem puder". Mote do Volnylson Almeida de Castro

 

"A gente luta mas come fruta", afirmou um pajé (recado saudável do dia).

 

Quando a inVeja acusa a direita é porque está apoiando a extrema-direita.

 

Saudades dos meus inimigos de infância...

 

Interação nas redes sociais vai além do algoritmo, é reciprocidade.

 

Escrever todos os dias é um exercício para a mente e um bálsamo para a alma.

 

Se o Equador tem um Lenín Moreno por que não, aqui, um Marx Negão, diz Sócrates.

 

O trator levará as sementes nos pneus e as espalhará em novos terrenos.

 

A escolarização não educa, deforma. Há uma "educação proibida".

 

Não é a semana apenas que está passando rápida, é a vida...

 

Se tiverem tantos candidatos da televisão não vai ter eleição, mas BBB.

 

Brasil, Fronteiras Sem Ciência.

 

O golpe prestes a completar 1 ano e ainda seguem culpando a Dilma e o PT...


Facebook, abril de 2017.

Edu Cezimbra